A greve dos sindicatos em Hollywood e os impactos da inteligência artificial na indústria audiovisual

26/09/2023 por Nathalia Garcia

A greve dos sindicatos em Hollywood e os impactos da inteligência artificial na indústria audiovisual

Estudo desenvolvida pelo colaborador Daniel Maia  

Se interessou?

Quer saber mais ou falar com um especialista para esclarecer suas dúvidas

Fale Conosco

Ao passo em que as maneiras de produzir filmes e outros conteúdos audiovisuais continuamente se transformaram ao longo dos anos, os artistas responsáveis por produzi-los tiveram de lutar para garantir que essas mudanças não tivessem impactos negativos em suas folhas de pagamento. Por conta disso, a ocorrência de greves em Hollywood, um dos maiores polos cinematográficos do planeta, costuma ser relativamente comum.

 

O último movimento do tipo havia acontecido entre os anos de 2007 e 2008, quando o Sindicato dos roteiristas estadunidenses, conhecido como Writers Guild of America (WGA), declarou greve após diversas tentativas frustradas de conseguir um acordo de reajuste salarial junto aos estúdios. Atualmente, no entanto, Hollywood vem enfrentando a maior greve dos profissionais do cinema e da televisão dos últimos 60 anos, primordialmente deflagrada por conta dos impactos que a popularização dos serviços de streaming e a utilização da inteligência artificial no processo de produção têm gerado na remuneração dos profissionais envolvidos.

 

No dia 02 de maio, o WGA declarou greve, paralisando os andamentos de um grande número de produções do cinema e da televisão. Mais de 2 meses depois, no dia 13 de julho, o sindicato dos atores (Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists) também decidiu aderir às reivindicações. Uma greve conjunta de ambos os sindicatos não ocorria desde 1960. Juntos, eles representam mais de 160 mil profissionais.

 

Esses atores e roteiristas reivindicam, dentre outras demandas, um pagamento justo de royalties relativos ao trabalho desempenhado por eles em produções incluídas nos catálogos de serviços de streaming. Além disso, os sindicatos se preocupam que a ampla utilização de ferramentas de Inteligência Artificial nos processos de produção de filmes e séries possam significar a precarização de seus esforços.

 

A automatização da criação de roteiros, por exemplo, suscita receios não apenas a respeito da sobrevivência dos roteiristas na indústria como também acerca da criatividade e autenticidade de conteúdos audiovisuais futuros. Outra questão polêmica envolve o armazenamento da imagem e da voz de atores e atrizes por tempo indeterminado por parte dos grandes estúdios. Segundo o SAG-AFTRA, essas empresas poderiam se utilizar desses dados ininterruptamente, a partir da recriação e modificação de imagens com o uso de ferramentas baseadas em Inteligência Artificial. Para isso, no entanto, remunerariam esses profissionais por apenas um dia de trabalho.

 

Tal prática, popularmente conhecida como “deep fake” tem gerado não apenas controvérsias trabalhistas, como também éticas. Recentemente, aqui no Brasil, um comercial da empresa de automóveis Volkswagen suscitou amplos debates por recriar a imagem da cantora Elis Regina, falecida em 1982.

 

 

Os impactos a dupla greve vem gerando diversos impactos em Hollywood. Grandes produções do cinema e da televisão já tiveram o andamento de seus trabalhos suspensos, a exemplo de Mulher Maravilha 3, Rei Leão 2, Gladiador 2 e as sequências de Avatar. O movimento também impede com que atores possam participar de eventos promocionais de divulgação de suas obras. Por conta disso, os eventos de lançamento dos filmes Barbie e Oppenheimer, grandes sucessos de bilheteria do ano, foram interrompidos pouco antes da estreia oficial dessas produções nos cinemas.

 

A greve parece estar perto do fim, após o acordo firmado entre os sindicatos e a associação que representa os estúdios em Hollywood, mas ele ainda precisa ser votado pelos filiados. Segundo o WGA, o acordo seria excepcional, e traz ganhos significativos para roteiristas em todos os setores. Ainda assim, até que a proposta seja votada, a paralisação deve continuar.